Anderson Sotero
anderson.sotero@redebahia.com.br
Primeiro a seca. Agora, o excesso de chuva. O município de Iaçu, a 287 quilômetros de Salvador, já tinha decretado situação de emergência por conta dos danos provocados pela pior estiagem dos últimos 50 anos, mas teve que fazer um novo pedido de emergência. Dessa vez, por causa dos
estragos provocados pelas chuvas.
Assim como Iaçu, a primeira a ter o novo decreto reconhecido pela Defesa Civil Nacional — órgão vinculado ao Ministério da Integração — mais 11 cidades da região do semiárido que vinham sofrendo com a seca passaram a somar os danos provocados pelas chuvas que caíram no estado na última semana. Isto porque, quando rápida e em excesso, a água só piora a seca.
“O povo estava com esperança muito grande de chuva e fez promessas. A água caiu, mas continuou. Veio uma tromba d'água e fez uma lástima. Desceu um rio dentro da cidade”, descreve o prefeito de Iaçu, Nixon Duarte, onde pelo menos 6,7 mil pessoas já tiveram prejuízos com a seca.
Segundo o prefeito, cerca de 90% do rebanho na cidade havia sido perdido com a estiagem. Agora, com as chuvas, os prejuízos já são estimados em cerca de R$ 5 milhões. “As chuvas derrubaram casas, inundaram lojas, arrastaram carros. Pelo menos 30 casas caíram”, relata o prefeito. Cerca de 200 pessoas desabrigadas foram distribuídas nas casas de vizinhos, parentes e casas alugadas pela prefeitura. “A minha casa subiu um metro de lama. Até a ferrovia, onde passam oito locomotivas, foi arrancada”, complementa.
Deus Agora com dois problemas, a população está sem norte. “A seca estava horrível. A gente estava precisando da chuva, não dos estragos. Mas é coisa de Deus, né?”, lamenta a auxiliar de enfermagem Maria Eunice, 57 anos, que há 30 anos mora em Iaçu.
O município de Utinga, a 414 quilômetros de Salvador, onde 18 mil pessoas convivem com a seca, também solicitou o decreto de emergência por conta das chuvas, mas o processo ainda está em análise. Com o reconhecimento, as prefeituras podem solicitar recursos federais.
“O temporal arrancou tudo que é árvore. Com a força da natureza não se brinca. Apesar de tudo isso, agora estamos na riqueza. Qualquer água que cai é um alívio”, ressalta a dona de casa Luzia Vieira, 55, que mora em Utinga desde que nasceu. Já em Itaberaba, na Chapada Diamantina, teve até chuva de granizo.
anderson.sotero@redebahia.com.br
Primeiro a seca. Agora, o excesso de chuva. O município de Iaçu, a 287 quilômetros de Salvador, já tinha decretado situação de emergência por conta dos danos provocados pela pior estiagem dos últimos 50 anos, mas teve que fazer um novo pedido de emergência. Dessa vez, por causa dos
estragos provocados pelas chuvas.
Assim como Iaçu, a primeira a ter o novo decreto reconhecido pela Defesa Civil Nacional — órgão vinculado ao Ministério da Integração — mais 11 cidades da região do semiárido que vinham sofrendo com a seca passaram a somar os danos provocados pelas chuvas que caíram no estado na última semana. Isto porque, quando rápida e em excesso, a água só piora a seca.
“O povo estava com esperança muito grande de chuva e fez promessas. A água caiu, mas continuou. Veio uma tromba d'água e fez uma lástima. Desceu um rio dentro da cidade”, descreve o prefeito de Iaçu, Nixon Duarte, onde pelo menos 6,7 mil pessoas já tiveram prejuízos com a seca.
Segundo o prefeito, cerca de 90% do rebanho na cidade havia sido perdido com a estiagem. Agora, com as chuvas, os prejuízos já são estimados em cerca de R$ 5 milhões. “As chuvas derrubaram casas, inundaram lojas, arrastaram carros. Pelo menos 30 casas caíram”, relata o prefeito. Cerca de 200 pessoas desabrigadas foram distribuídas nas casas de vizinhos, parentes e casas alugadas pela prefeitura. “A minha casa subiu um metro de lama. Até a ferrovia, onde passam oito locomotivas, foi arrancada”, complementa.
Deus Agora com dois problemas, a população está sem norte. “A seca estava horrível. A gente estava precisando da chuva, não dos estragos. Mas é coisa de Deus, né?”, lamenta a auxiliar de enfermagem Maria Eunice, 57 anos, que há 30 anos mora em Iaçu.
O município de Utinga, a 414 quilômetros de Salvador, onde 18 mil pessoas convivem com a seca, também solicitou o decreto de emergência por conta das chuvas, mas o processo ainda está em análise. Com o reconhecimento, as prefeituras podem solicitar recursos federais.
“O temporal arrancou tudo que é árvore. Com a força da natureza não se brinca. Apesar de tudo isso, agora estamos na riqueza. Qualquer água que cai é um alívio”, ressalta a dona de casa Luzia Vieira, 55, que mora em Utinga desde que nasceu. Já em Itaberaba, na Chapada Diamantina, teve até chuva de granizo.
Escoamento
O prefeito de Iaçu admite que a cidade não conta com uma estrutura para escoamento das águas das chuvas. “Qual a cidade que cai uma tromba d’água e que tem um estudo para escoar a água se nem Salvador e Rio de Janeiro têm estrutura quando chove?”, questiona.
A situação não foi diferente em Jequié, onde 7 mil pessoas já enfrentam as consequências da seca. “Foi uma tromba d'água. Para nós, a água é uma bênção, mas como foi em grande intensidade, a cidade não estava preparada”, destaca a prefeita Tânia Britto, que ainda não sabe quantas famílias foram atingidas e reclama da falta de ajuda dos governos estadual e federal. “Não tem sido suficiente. Em janeiro, não chegou recurso nenhum. Zero”, diz a prefeita.
Fragilidade
De acordo com o coordenador da Defesa Civil Estadual (Cordec), Salvador Brito, o problema é que houve uma concentração das chuvas em curto espaço de tempo, em áreas que não têm preparo para isso. Há outras sete que não tinham emergência pela seca, mas também têm enfrentado problemas com as chuvas.
“Temos uma fragilidade muito grande quanto à urbanização das cidades. Há muitas construções em locais impróprios”, diz. Como exemplo, ele cita a cidade de Iaçu, onde uma lagoa foi aterrada e construíram um campo de futebol murado em cima. “Quando se ocupou essa área, que acolhia água da chuva e seguia para o rio Paraguaçu, alterou o ambiente. Falta percepção dos caminhos naturais da água e planejamento”, avalia o coordenador da Cordec.
O órgão estadual ainda não tem uma dimensão dos prejuízos. “Ainda não temos um quadro total. A gente toma ciência de uma forma mais concreta quando o município apresenta a demanda formalmente. A gente não pode reclamar muito da chuva, porque era isso que a gente queria. Se estiver preparado, ajuda a reduzir os riscos”, diz.
Se, apesar dos desastres, a chuva poderia representar um alívio, Brito ressalta que as chuvas que caíram não vão conseguir reverter o quadro da seca. Um total de 260 cidades ainda permanece com emergência decretada por conta da estiagem. “A característica principal dessa chuva é de pancadas fortes que provocam enxurradas. Pode até ajudar a melhorar, mas não o suficiente para reverter”, diz.
O coordenador da Cordec diz ainda que o órgão vai mensurar as diferentes situações. “Vamos ter que avaliar os municípios, porque a seca não desaparece da noite para o dia. O impacto permanece. Para repor um rebanho vai demorar uns cinco anos ou mais. É difícil recuperar”, finaliza. Sobre as ações do governo do estado frente aos danos deixados pelas chuvas, Brito diz que ainda está sendo verificada a situação de cada município e que a ajuda será feita “dentro das limitações orçamentárias do estado”.
Chuva foi insuficiente para reverter quadro de seca
Pelo menos 37 cidades da região do semiárido tiveram suas preces e pedidos atendidos. Em Amargosa, Brumado, Barra, Euclides da Cunha, Irecê, Milagres e Queimadas, as chuvas finalmente caíram.
De acordo com registros feitos pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), o alívio chegou no início de janeiro e se intensificou no último fim de semana. No entanto, ainda é insuficiente para reverter o quadro deixado pela seca.
“Praticamente toda a Bahia teve chuvas. O problema é que a quantidade de água não é suficiente para suprir as necessidades. Só ameniza um pouco. Foi um período curto de chuva”, destaca a técnica da Coordenação de Monitoramento do Inema, Maryfrance Diniz.
“É preciso ter uma continuidade das chuvas para irrigar o solo que está seco. Essa chuva de enxurrada não ajuda a irrigar o solo”, completa o coordenador da Defesa Civil Estadual (Cordec), Salvador Brito.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, até o final deste mês, não há previsão de chuvas intensas como as da última semana. Já o esperado para os primeiros três meses do ano é de chuva abaixo da média no nordeste da Bahia. Nas demais áreas, dentro do padrão normal. “O problema é que pode chover o esperado para o mês em um dia e ficar sem chover nos outros dias restantes”, explica a meteorologista Cláudia Valéria Silva.
Pelo menos 37 cidades da região do semiárido tiveram suas preces e pedidos atendidos. Em Amargosa, Brumado, Barra, Euclides da Cunha, Irecê, Milagres e Queimadas, as chuvas finalmente caíram.
De acordo com registros feitos pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), o alívio chegou no início de janeiro e se intensificou no último fim de semana. No entanto, ainda é insuficiente para reverter o quadro deixado pela seca.
“Praticamente toda a Bahia teve chuvas. O problema é que a quantidade de água não é suficiente para suprir as necessidades. Só ameniza um pouco. Foi um período curto de chuva”, destaca a técnica da Coordenação de Monitoramento do Inema, Maryfrance Diniz.
“É preciso ter uma continuidade das chuvas para irrigar o solo que está seco. Essa chuva de enxurrada não ajuda a irrigar o solo”, completa o coordenador da Defesa Civil Estadual (Cordec), Salvador Brito.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, até o final deste mês, não há previsão de chuvas intensas como as da última semana. Já o esperado para os primeiros três meses do ano é de chuva abaixo da média no nordeste da Bahia. Nas demais áreas, dentro do padrão normal. “O problema é que pode chover o esperado para o mês em um dia e ficar sem chover nos outros dias restantes”, explica a meteorologista Cláudia Valéria Silva.
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